30 outubro, 2012

CONFLITO

Para ler ouvindo "Nocturne Op. 9 nø 2" de Chopin:
http://www.youtube.com/watch?v=YGRO05WcNDk




- Você sempre estará bem guardado no meu coração. – e assim, ela desligou.

Ele permaneceu sentado olhando para o telefone. Pensou se aquele era o momento de apagar o contato dela da agenda. Depois “espanou” a ideia como quem afugenta um inseto. “Uma muriçoca”, ela diria.
De nada adiantaria, pois ele tinha aquele número impregnado nele assim como o perfume dela, o sorriso, o jeito que arrumava o cabelo e tantas outras coisas.
Quando finalmente conseguiu levantar só tinha em mente um único lugar para ir: um bar.
Nunca recorreu à bebida para “resolver” problemas, mas, tinha a certeza, que só a bebida acalmá-lo-ia.
Como a pessoa sensata que era, começou elencar todos os prós e contras daquela relação e chegou ao cruel resultado de um empate.
Tanto a amava, quanto a odiava. Tanto precisa dela, quanto queria viver só.
A dor, sua velha companheira, estava lá, fazendo-o remoer toda possibilidade de felicidade não vivida. Queixar-se de tudo que tentou e ela não permitiu. Arrepender-se de tudo o que ela quis e ele negou-lhe.
“Vou-me embora desta cidade!”, pensou num rompante como única possibilidade de fuga do sofrimento.
“De que adianta ir embora daqui, se carrego comigo meu coração!”, constatou derrotado pela certeza de um longo e doloroso sofrimento.
Lembrou mais uma vez de seu sorriso e perguntou-se se ela estaria sorrindo naquele momento... E foi quando teve a revelação: tudo o que mais queria, era a felicidade dela. Portanto, se ela – em algum lugar – estava sorrindo e feliz naquele instante, ele também deveria estar feliz.
Ergueu o copo, brindou à felicidade dela, tragou a bebida – que lhe pareceu insípida –, pagou a conta, levantou-se e saiu.
E sua dor, que nunca o deixou, o acompanhou pela rua já vazia...

01 outubro, 2012

VINTE ANOS DEPOIS...

Era o encontro de "Vinte Anos Depois" da turma de Administração de 92. Menos da metade da turma original estava ali.
Quatro amigos - inseparáveis, à época - estavam, durante todo o encontro, inseparáveis, conversando sobre tudo!

- Bem, depois da formatura… Trabalhei numa exportadora, casei, separei, casei, fui promovido, separei, fui demitido, fui contratado numa multi, casei e fui promovido.

Todos soltaram um "humm…" como se tivesse sido ensaiado.

- Eu… Entrei pra uma multi, viajei, viajei, viajei, casei, viajei, viajei e voltei pra presidir a multi aqui.
- Hmm… Abri minha empresa, casei, separei, casei, separei, casei, separei, casei, separei, casei com a terceira de novo e separei… Quase falido só de pagar pensão.

Todos riram.

- Depois da formatura… Continuei morando com meu pais. Moro até hoje. Sou sustentado por eles.

Silêncio.

- Vida louca, hein?! - um deles comenta.
- Ô! Agitada… - reponde ele.

Uma Aliança Frágil

Igual a todos os dias, logo após acordar
Esbraveja contra todos os deuses, coisas, seres e pessoas.
(Nesta escala de importância).

Ainda deitado acessa o seu computador e percebe
Que o seu amigo de longa data, fugitivo dessa cidade e
apreciador das coisas tristes, está fazendo aniversário.

Como todo os anos anteriores, observa
que a quantidade de mulheres que o felicitam
é considerável e diria animador,
mesmo não havendo a capitalização deste recursos.

Indolente, como este dia que teima em iniciar,
Atualiza sua agenda e vê que esqueceu o aniversário
de duas amigas, risca a tarefa como se fosse concluída
e remarca para o próximo ano.

Após as tarefas matutinas realizadas,
Resolve ligar para o seu amigo, após piadas internas
e algumas heresias ditas, recebe uma confidência:
- Cara, só recebi ligações do meu pai e sua.

Reflete consigo: "Cara, andas mal de amigo"
Outro telefone toca e ele acelera a conversa,
enfim está acordado.