20 março, 2009

ATO III - Cena I - Hamlet


Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer.., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa idéia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte — terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou — que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem. Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia. Em tuas orações, ninfa, recorda-te de meus pecados.

Obra Completa - http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/hamlet.html

15 março, 2009

Palavra Abstrata

Toda palavra é uma ilusão
Uma abstração
Esperando apenas uma ação
Para deixar de ser imaginação

Palavras ditas com intensidade
Perdem seu momento
Seu sentimento
Se não tem algo a oferecer

Da palavra vem um abraço

Um beijo
Um desejo

Para uma real situação
Ela vem ligada a uma ação
Antes de viver da palavra
Viva a ação

09 março, 2009

RECOMPENSA*

Ela já nem sabe mais o que é dormir à noite. Tem que sair cedo, antes de escurecer, pois quanto mais cedo sair de casa, mais coisas irá encontrar e assim ganhar mais dinheiro. Se é que centavos a mais dá para chamar de “mais dinheiro”.

Veste sua roupa, calça um tênis surrado que achou outro dia, pega sua carroça e sai. A noite ainda não começou, mas o sol já está tingindo o céu de laranja, anunciando o fim da mais um dia.

Já na primeira esquina ela encontra uma boa quantidade de plásticos. “Hoje vai ser bom!”, pensa. Continua sua jornada pelas ruas da cidade, parando aqui e ali, analisando cada saco de lixo na esperança de encontrar algo que sirva.

Às quatro da manhã, a sua carroça já está cheia e ela, muito cansada. Não se considera uma velha, tem apenas cinqüenta anos, mas teve uma vida de sofrimento e trabalho duro – desde criança – o que lhe faz sentir como se o corpo tivesse cem anos.

Fazendo a última rota já pensando em ir para casa, passa por um supermercado e vê alguns papelões no lixo. Resolve apanhá-los. “Um dinheirinho a mais”, reflete.

Quando está separando os papelões, vê que entre os sacos de lixo tem um saco diferente, feito de pano. Pegou o saco e ao abrí-lo sentiu como se um raio a tivesse atingido. Não conseguia acreditar no que via. Dentro do saco tinha uma quantia de dinheiro que ela não conseguiria contar no primeiro momento. Apertou o saco contra o peito, olhou para cima e agradeceu: “Obrigado Senhor! Tinha certeza que hoje ia ser bom!”.

Após o momento de êxtase, percebeu que o saco tinha uma figura, e que a figura era a mesma da placa do supermercado, então se deu conta que aquele dinheiro pertencia ao supermercado. Pensou sobre o que deveria fazer. Mesmo sem ter idéia do valor exato, sabia que com aquele dinheiro pagaria todas as contas e ainda sobraria algum para ficar sem preocupações por um bom tempo.

Se preparava para colocar o saco dentro da carroça quando lembrou que tinha uma vizinha que trabalhava naquele supermercado, então, também como um raio, foi atingida pela grande verdade: apesar daquele dinheiro ser do riquíssimo dono do supermercado, com certeza, algum funcionário – pobre como ela –, por descuido, fez com que aquela quantia fosse parar no lixo. Engolindo a frustração de ser ver rica apenas por um breve momento, resolveu esperar o supermercado abrir para devolver o dinheiro. Sentou na calçada e esperou.

Enquanto esperava, se alegrou por ser uma pessoa honesta, e se o dono do supermercado percebesse o mesmo, com certeza ficaria muito grato e lhe daria uma recompensa. Como era muito dinheiro que tinha naquele saco, então, seria uma imensa recompensa!

Quando o dono chegou no supermercado, ela se aproximou e pediu para falar com ele. Ele com um misto de desconfiança e impaciência disse-lhe que falasse logo, pois tinha pressa. Ela mostrou o saco com dinheiro e contou-lhe toda a história. No mesmo momento ele pegou o saco de suas mãos e a convidou para entrar.

Em sua sala, ele começou a enaltecer a honestidade daquela mulher e para mostrar que estava profundamente agradecido lhe daria uma recompensa.

Chamou o responsável pelo caixa, pediu que ele guardasse o dinheiro no cofre e disse-lhe que depois conversariam sobre o ocorrido e que, “cabeças rolariam”.

- Agora vamos à sua recompensa. – disse voltando-se para aquela mulher.

Abriu uma gaveta e de lá de dentro tirou quatro notas de cinqüenta reais, entregou-lhe e pediu que saísse, pois ainda tinha muito o que fazer.

Ela, agradecida, pegou os duzentos reais – o valor de sua honestidade – e foi para casa pensando: “Eu sabia que hoje seria um dia bom!”



( * ) Texto inspirado em notícia no jormal.

Recompensa de R$ 200Catadora acha R$ 40 mil no lixo e devolve a donoCatadora de lixo achou R$ 40 mil no lixo de um supermercado e devolveu o dinheiro ao dono do estabelecimento. Ela ganhou R$ 200 de recompensa e gastou parte do dinheiro no próprio supermercado, onde comprou refrigerantes. Com o restante, a mulher disse que pagaria dívidas.

07 março, 2009

Amigos

Amigos pra dá e vender?!
Não, não vendo nenhum!
Apenas concedo um amigo

Aqueles que precisam,
Concedo a minha alegria
Concedo um amigo, pra arrumar outro

A quem precisa de tudo
Um amigo é muito
Consolo, alegria, amor,
Esperança, uma luz de vida

Uma amizade bem feita
Sustenta na tristeza
Nos desperta para o horizonte

A jornada, descoberta do mundo
A iluminação de dias tem seu esplendor
Quando se tem um amigo

Você já tem um amigo?
Quem quer ter um amigo?

03 março, 2009


Como rosas são os sonhos
No desabrochar, um perfume cálido e suave
Que usurpa resistências
Que subjuga vontades

Como rosas são os sonhos
Várias cores, tonalidades
Que nos seduzem com sua beleza incauta
Exposta, tão frágil

Mas assim como as rosas
Que ao final de um tempo, um dia
Suas formas e harmonia se desvanecem
Os sonhos se vão fugazes
Deixando apenas
Espinhos...

02 março, 2009

Linhas em branco

Linhas em branco
Jogadas ao vento
Deixadas ao relento
Renegadas da lembrança, do momento

Dispensadas do pensamento
Linhas em branco, tempo passado sem nenhum pensamento
Tempo perdido que não vou atrás
Em branco deixou, momentos perdidos no tempo,
no infinito

A preguiça domou o meu pensamento
E assim se criou esse branco
Nem pensamento se firmou
Nem sorriso se manifestou

As linhas em branco
Silêncio
Tempo sem pensamento

Agora, arrependo-me desses meus lapsos de tempo
Não há como preencher essas linhas de tempo

PROMETEU SEM PROMESSAS

Do que é feito o amor?
De onde vem sua infalível chama?
Como resistir ao torpor,
De se ter, enfim, a quem se ama?

Eu não sei. Nem mesmo ligo.
Meu amor era azêmola,
Filho torto de Sísifo.

Quando acordava, tecia seus poemas
(Amargos doces do destino),
Ao dormir - grande hiena,
Devorava meus sentidos.

Ao entrar, perfilado, paria-me esperanças.
Ao sair, jeremíaco, deixa-me às traças.
Ele novo – eu criança.
Ele longe – aonde graça?

01 março, 2009

[a luz amarela dá na parede. o poste, eu penso. e penso pondo cuidado nos detalhes, os olhos atentos nas cores, nas formas e o sorriso atento na vida. ao simples respirar de vida, o rosto enche de alegria.]

outro dia escutei uma plantinha conversando com o vento. achei fantástico. dizia ela toda singela, no auge de seus poucos dias, que no estudo da vida, nessa que o sujeito se lança com sede nos olhos, o termo é coloquial.

fiz silêncio.
era deus.


imaginei os maiores mestres banguelos. os livros, conversas triviais de sábios. oh, sim!, os meninos nos girassóis...
fui perto da plantinha - o nome dela, perdão, não foi a pergunta que me surgiu. nem a ela. duas qualqueres, livres. duas simplesmente. e o sol sorria em cima do encontro, olhei pro braço e senti. e olhei também pro céu e li algumas nuvens. os movimentos lentos de tanto o vento prosear purali mais embaixo. mediante a porção de vida dentro do meu sorriso, então percebi que já estava há tempos em troca com a planta.

há um momento. e há infinitos. há infinitos e há um momento.

falei meio assim que é pra segurar os olhos. os olhos de vocês.
eu me chamo Lívia e sou aquela que gritou no final da música.

então você se aproxima de uma planta, a cada novo passo, vá conhecendo a fisionomia de sua nova amiga, deixa que ela te mude completamente, entrega teu saber, chega bem pertinho e diz olá. não espere uma mudança assim. mudança assim se diz quando o verde de repente é vermelho. ou quando um elefante alado canta leve no fio do poste. portanto, não espere o sapo de paletó. apenas saiba escutar a planta. dica: aprume os ouvidos, ela fala muito baixo. mas é grande. é infinito e a gente não volta. e mais uma vez o relógio te chama: ei!. e você volta para a sua sala, reconhece as paredes, sente os pés: hoje é quarta-feira e as janelas estão abertas corriqueiramente - propício ao ir. a mudança vem sem dizer uma só palavra, essa que eu falo é dessas que é feito uma maçã que amanhece mais saborosa. uma flor mais viva com o passar pingoso dos segundos. e você vai se enchendo de sabedoria, o tal estudo da vida, as lições de pé no chão. e o olhar reconhece o todo, o coração abraça o universo. e você aninha as sementes na terra, faz uma oração breve que é pra não enche-las demais. elas, animadíssimas.
você todo amor.
você a própria planta que vai nascer.

então compreenda. seja. se olhe no espelho.
o céu que por ventura se fizer dentro de você, é a resposta - no plural - que precisará na tua lida.

e que por sinal inventou uma dança meio maluca - eu, que um dia fiz amizade com a loucura e a vida ficou mais colorida.


sabe como é, a gente sonha e acorda em outro universo. prazer.

é uma honra rebentar neste domingo bem aqui neste local.

abraços.