Roberto
estava absorto em seus pensamentos quando viu Marco, em um bar, do outro lado
da rua.
Resolveu
ir ter com o amigo.
- Marco?
- Roberto?!
Ô, rapaz, finalmente alguém pr’eu conversar! Senta aí, amigo.
- O que
aconteceu?
- Nem
te conto... ‘Tou completamente apaixonado... Pela Rosa.
Roberto
parecia não saber o que deveria dizer, então, a primeira reação foi levantar a mão
e pedir duas doses ao garçom.
Depois,
sentenciou:
- É,
rapaz, coisas do coração... – tentou dar alguma profundidade a essa frase.
- O
pior é qu’eu penso nela todo instante!! E o nome dela parece um sino badalando
na minha cabeça: “Bianca, Bianca, Bianca...”
- Ô,
mas não era “Rosa”? – perguntou confuso.
- Quê?!
‘Tá louco, homem?! Bianca é a mulher da minha vida!
- Hum. –
Roberto já não sabia o que dizer.
- Sei
não, mas... Acredito que fomos feitos um para o outro!
- Hum.
- Quando
eu vi a Natália a primeira vez.
- Mas. –
interrompeu – E a Bianca?!
- ‘Cê ‘tá
prestando atenção em alguma coisa qu’eu ‘tou dizendo?! ‘Tou falando de amor à
primeira vista, meu caro! Ah, Natália! – suspirou.
- Hum. –
Roberto se perguntava se aquela conversa ‘tava mesmo acontecendo.
O
garçom ainda nem tinha trazido sua bebida e ele achava que já deveria parar.
- E
você, já amou alguém de verdade, Roberto?
-
Bem...
Mas
Roberto foi interrompido pelo garçom, “Licença, as bebidas”.
Marco
agarrou seu copo.
- Vamos
brindar ao amor, meu querido amigo! – ergueu seu copo. - E às mulheres de
nossas vidas. À minha Berenice! E à sua...?
-
Peraí, Marco! – protestou Roberto com seu copo erguido. - Isso é alguma
brincadeira? – perguntou sem esconder a irritação.
- O
que, rapaz?! ‘Cê não tem a quem brindar? Desculpe a minha insensibilidade. É
que o amor me deixa assim... Sentimental demais. E só quero falar nela: “Ruth
isso; Ruth aquilo; Ruth-não-sei-oquê!”
Roberto
olhava para Marco, completamente abobalhado.
Ficou por
um tempo observando o amigo para ver se em algum momento cairia na risada e
faria algum gracejo indicando a grande piada.
A
risada veio. Para o bem da verdade, foi uma boa e ressonante gargalhada.
- O
amigo me perdoe, mas ‘cabei de lembrar de uma situação muito engraçada com minha
amada! Estávamos, Maria Sofia e eu, passeando pelo parque, quando.
Mas
Roberto não prestava mais atenção. Viu que dali não viria nenhuma pilhéria. E
percebeu que, ao citar o nome de cada mulher, os olhos de Marco brilhavam. Depois
se censurou por querer encontrar lógica naquele insólito diálogo. E pensou: “Brilham
também, os olhos dos bêbados e dos loucos!”
E foi tirado
do seu devaneio com a gargalhada – ainda mais alta – de Marco.
- Não
foi engraçado? – perguntou naquele tom dos que esperam uma resposta positiva.
- Sim,
sim... – respondeu e ensaiou um meio-sorriso.
- O
amor... Ai, ai, o amor...
E lá
estava ele com o tal brilho no olhar.
-
Verdade. – disse, sem nenhuma ideia do que concordava.
- Isso
mesmo.
Roberto
estava armando a deixa para encerrar aquele encontro, quando Marco engatou:
-
Quando conhecer Adriana, vai entender porque só falo nela!
Não
aguentando mais tanto absurdo, Roberto levantou-se e foi ao ponto:
-
Marco, sinto muito, mas tenho compromisso. Preciso ir.
-
Claro, claro! Eu também preciso ir, vou à joalheria. Comprarei uma aliança e
amanhã mesmo, peço Letícia em casamento.
Roberto
só esboçou um sorriso.
- Que
bom. – foi o máximo que conseguiu dizer.
-
Boníssimo! Bo-níssimo!
Marco de
um forte abraço em Roberto.
-
Sempre muito bom conversar com você!
Gritou ao
garçom “coloca na conta” e saiu todo sorridente e sussurrando “ai, o amor!”
Roberto
ficou ali parado vendo o amigo ir embora. Refletiu sobre toda a loucura que
vivenciou há pouco...
Sorriu
e disse para si: “Esse daí, ama demais!”
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