Estava
sentado em minha poltrona, lendo e tentando esquecer a amada que não está entre
hostes celestiais e sim, goza de lascívia alegria em sua nova morada.
Eu tremia
de frio e tristeza, sem nenhuma poesia para enfeitar a ocasião. Foi quando aquela
terrível besta – fruto de um ventre ignóbil – invadiu o meu salão.
Com um
ruflar assombroso, perscrutou cada lugar. E, finalmente, encontrou um que
considerou conveniente pousar.
Não
sobre o busto de Atenas, mas em cima da urna de minha mãe, bem longe dos
umbrais.
A negra
ave de tempos ancestrais escancarou seu bico e quando pensei que iria amaldiçoar-me
com um grito de “Nunca mais!”, surpreendeu-me, pois desaguava negro vômito
sobre o chão. E meu receio em ouvir “Cras! Cras!” era inimigo de minha ambição.
A massa
disforme e pútrida que a besta vomitara era o resumo de minha vida e a Ave profetizava:
“Tu serás feliz jamais!”. Espanei o ar c’as mãos, “Vai-te daqui, besta
agourenta. Deixa-me com meus ‘ais!’”.
Sofro
por ela que me esqueceu, antes fosse Leonor, pois de presente só tenho a dor,
já que o amor pereceu.
Olhou-me
firmemente, e em seus olhos que nada negavam, pude ver os meus.
Por
fim, entendi que as Trevas já me abraçavam e não adiantava gritar por Deus.
A
loucura, tantas vezes invocada, tomava a razão.
Estava sozinho, não
havia Ave alguma. Somente a solidão.
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