21 junho, 2009

A dor de Bianca

Bianca só tinha 19 anos, mas sua cabeça já era bem mais experiente.
Era boa aluna, ótima filha, a amiga perfeita. Era loira, corpo definido e tinha um sorriso incomum.
Acordou pela manhã, foi a faculdade, levou seu dia como outro qualquer.
A noite em seu quarto, vestiu o melhor vestido, passou o melhor perfume e calçou o melhor sapato.
Sentou-se em frente ao seu espelho, pegou a escova e penteou mais uma vez seus cabelos dourados.
Pôs na boca um batom bem vermelho, e enfeitou seus olhos azuis.
Sorriu mais uma vez, olhou-se e olhou-se, estava perfeita.
Abriu uma gaveta que tinha ao lado e tirou de lá um pequeno revólver que tinha arrumado com o seu melhor amigo Tiago.
Segurou com a mão direita, pôs acima do ouvido.
Caiu uma última lágrima e criou-se um último sorriso na face.
Puxou o gatilho.
Sua mãe que estava na cozinha, correu para ver o que tinha ocorrido. Chegou ao quarto e sem acreditar no que via gritou com toda a força que podia. Entorpecida e aérea ainda conseguiu enxergar uma pequena carta que Bianca deixara em cima da cama.
Dizia assim...

"A culpa não foi de ninguém, a culpa também não foi minha. Covarde talvez eu seja, fraca quem sabe. Não suportei, tentei segurar, tentei lutar contra. Essa dor maldita foi mais forte que eu. O amor me corroeu por dentro, começou com uma picada de leve, depois foi consumindo todo meu corpo, como uma espécie de infecção. A cura para o que eu tinha era o próprio problema. Ele era ao mesmo tempo o causador de minha felicidade e o feitor de minha destruição.
Minha dor já não se contetava apenas em transbordar pelo olhos, ela queria mais, queria meu corpo, minha alma e minha essência.
Eu estava envolta em um beco escuro e sem luz.
Eu já estava morta a tempos, somente meu corpo é que ainda insistia em se pôr de pé.
A tristeza me abraçou e não me largou mais, minha esperança tinha chegado ao fim, e minhas forças...minhas forças foram sumindo.
Fui vítima de um amor infeliz, um amor que tirou de mim minha própria vida...ele foi mais forte que eu, mais forte que qualquer coisa que me cercasse.
A vida já era vista em duas cores somente, o preto e o branco...
Desespero era minha constância e minha rotina...A sina de pensar naquele dito cujo ia preenchendo todos os meus segundos, ia me transportando para um mundo onde a única coisa que importava era ele.
E a dor foi aumentando, a cada sorriso não recebido, a cada não jogado em mina cara...eu ia me acabando aos pouquinho, morrendo a cada declaração não dita.
Cheguei em um ponto onde não se havia nada a fazer, não me adaptei às circunstâncias e não lutei contra o amor, eu queria o amor. A minha necessidade dele era tamanha que eu não me importava com a ferida exposta que ia crescendo nesse músculo involuntário no meio de meu peito.
Minha dor era só a minha, e minha vida também.
Eu já era a dor em si, me transformei em um depósito carregado de frustrações.
No fundo via em minha morte a libertação, o refúgio...a liberdade.
Deslumbrei-me com a idéia de ser livre, mesmo que morta. Pura, mesmo que sem vida.
Matei comigo a minha dor, a minha angústia e o meu amor venenoso...
Creio que me libertei enfim.
Eu não fui feliz, tentei, mas não fui...falta de sorte talvez...
Me rendi ao fracasso de não poder suportar a própria vida, e se eu não posso suporto-la não sou merecedora de tal.
Deixo a todos o meu último adeus, as minhas últimas linhas...
Nasci por causa de um amor, e por um amor eu morri!
Adeus."

_______________Bianca Lacerda de Brito


(Hosana Lemos)

3 comentários:

La Sorcière disse...

Texto chocante....caramba! Que impacto!!

João Victor disse...

O texto é interessante, mas qual o seu real propósito?

H L disse...

propósito? nenhum...só tava com vontade de fazer um texto desse tipo!
;)