12 fevereiro, 2009

Atormentado pelo dia

Acorda com uma indisposição, o relógio toca sem se preocupar de como ele está. Sonolento se levanta. Mecanicamente vai ao banheiro, sabe que a água fria é a fonte para sair do transe do sono. Por muitas vezes pensa em não querer acordar. O daí que o espera vale tudo isso. Não quero fugir do meu sonho, da minha ilusão perfeita diz ele.

A barulhenta cidade acorda, e ele não tem escolhas, viver no que já está decidido. Deve acordar! No banho, não a tempo a perder. Corra, corra! Se arrume! Em meio à arrumação mecanizada, que faz todo dia. Em meio a arrumação ainda acha tempo para pensar no bom que será se ele começar a tomar as decisões do mundo que o cerca.
Medo o atinge, a mudança é algo incerto. Para que mudar, ele sobrevive bem do jeito que está.

Atraso sempre. Na parada, sons o perseguem, conversas alheias, murmúrios, lamentações, até orações para um dia bom. O interior dele se perturba com tanta agitação.

Lá vem o trânsito, numa cidade sem descanso. Só construção a admirar e pensar no quão paradoxal é a vida, tentando fugir da inquietude do mundo. E ainda sim ele ouve as asneiras da cidade. Já se acostumou?! Os ouvidos adaptaram-se aos ruídos, mas o corpo ainda não a tanta intoxicação.

No trabalho, Oh não disse ele. Cinco minutos atrasado. Lá vem sermão do chefe, de como o minuto é importante e quão essencial você é a empresa. Ele é um “colaborador” e a empresa depende dele. Bronca, advertência tentando ser motivacional. O que quer dizer isso afinal.

Tenta focalizar no trabalho, esperando que assim passe mais rápido. Se a menos não contassem as horas e sim a força e meta alcançadas no dia. Isso sim seria motivacional.

Atrapalha-se a olhar as novas colaboradoras. Como em todo lugar, sempre existe alguém ou algo a nos atrapalhar. Ele olha o potencial de todas. Cuidado, ou outro sermão vai levar. Ele tenta espera a hora do almoço chegar, mas ele tem medo de arriscar. O dia pode ser pior se “queimar”. Por que é tão difícil tomar decisões?! Ou é o medo de mudar a vida que o atormenta.

Exaurido por este dia, alivia-se de acabar um dia de trabalho. Conversar com os colegas, ligar para amigos, vale tudo no final do dia. Para pelo menos salva-lo da desgraça da monotonia. Recusas são feitas. Alegações as mesmas. Tomadas pela canseira do dia.

O jeito é ele voltar para casa, mas uma vez atravessa a cidade no ônibus lotado. O ônibus transforma-se numa sauna. Hora de expelir o ar e ficar mais imprensado. E ainda ter que suportar o trânsito que já deixou de ser suportável.

Chegando a casa, só resta um jantar e um banho a tomar. Deita-se na cama, libertando-se das tormentas do dia e pondo a sonhar em um dia em outro lugar.

3 comentários:

João Victor disse...

Melhor texto lido no blog até hoje.

Claro, poético, intimista.

Muito bom. Parabéns!

Anônimo disse...

Bom texto, apesar de achar que voce pode melhorá-lo com algumas mudanças de palavras e sintaxe. Mas te digo sinceramente, algumas imagens ficarão na minha mente por muito tempo: o relógio, o trabalho, o transito. Voce resumiu com perfeição alguns dos males de hoje...
Espero que não seja biografico!:)

Danilo Maia disse...

"Chegando a casa, só resta um jantar e um banho a tomar. Deita-se na cama, libertando-se das tormentas do dia e pondo a sonhar em um dia em outro lugar."


Adorei essa "fuga" no final! Ótimo texto!