Eu digo adeus. Adeus às confidências repartidas em quartos escuros de motéis, às juras tediosas de eternidade, às alegrias incontáveis de poucos instantes. Digo adeus, e ela também, às brigas intermináveis de domingo, às risadas intermináveis de domingo, às manhãs intermináveis de domingo. Digo adeus. Adeus aos beijos navalhantes do desejo, às indiferenças apregoadas de intenções, à intimidade úmida dos lençóis. Eu digo adeus aos choros combalidos na madrugada, às toques doces de reânimo, à língua lasciva ao pé-de-ouvido. Eu digo adeus às mentiras disfarçadas em sorrisos, à sorrisos deturpados pela culpa, à culpa desgastada impunemente. Eu digo adeus às possibilidades abortadas, aos interesses calculados, às desculpas robotizadas. Digo adeus, e sei que todos em algum momento também, à deliciosa espera do reencontro, à dilacerante espera do reencontro, à indiferente espera do reencontro. Digo adeus aos telefonemas saudosos e burocráticos ao longo do dia, aos corpos molhados em silhueta nos umbrais, à customização da confiança no amor. Dizemos adeus, eu e ela, à obrigação do agrado sistemático, à santificação da mentira sufocante, ao afogamento metálico do cotidiano. Nós dizemos adeus à recompensa banal do casamento, à incalculável riqueza de se ter um ombro amigo, a indisfarçável e nojenta segurança da rotina. E saudamos, a (sempre) incerta rua do adiante.
2 comentários:
Confuso, angustiante e sofrido, mas com ar de definitivo.
Um texto memorável.
Eu fico com angustiante e verdadeiro!
Poxa, Alex, muito bom mesmo!!
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