17 fevereiro, 2009

O SEXTO DIA E A IDENTIDADE PESSOAL

A Globo exibiu, no último “Domingo Maior”, O Sexto Dia, tentativa pífia de se fazer um filme de ação que preste. Arnold interpreta (!) um piloto de helicóptero que acaba sendo clonado por engano e resolve lutar por sua vida e o bla, blá, blá de sempre. Como cinema, o filme é apenas trash (no mal sentido), mas como Ficção Cientifica, ele até permite um debate interessante: Qual é a verdadeira natureza de identidade? A Filosofia define identidade pessoal como “as condições sob as quais uma pessoa em um momento é a mesma pessoa em outro momento...”

O que faz você ser você e não outro? Sua constituição génetica? Sua aparência? Suas memórias?
Bem, tudo que existe em você: pele, sangue, genes e até a molecula de seu DNA é formada por elementos quimicos. Pelos mesmos elementos químicos que estavam aqui no dia da criação. Não há perda de matéria lembra? Portanto, os átomos que te formam já estavam, estão e estarão aqui. Dizer que você é as moléculas que te formam é afirmar que, basicamente, todos somos um corpo só, e, francamente, isto só era bem aceito nos anos 70.

Você também não pode ser apenas o que aparenta. Por quê? Imagine, por exemplo, o Presidente Lula e FHC. São duas pessoas diferentes sem dúvida, e não por causa da política econômica de seus governos. Pensamenos então em todas as óbvias diferenças físicas entre os dois: a barba, os noves dedos, o fato de um ainda ter esposa. Imagine agora que, por sorte, o avião do atual presidente caiu, Lula e FHC sofrem um acidente 06 vezes pior que o de Leornado de Caprio em O Aviador. Imagine que eles ficaram completamente desfigurados, perderam as pernas, os braços, os estomagos. Estão fisicamente idênticos, (apenas duas massas pretas jogadas em macas de hospital) sobrevivendo apenas por ajuda de santos e aparelhos. Eles deixaram de ser duas pessoas diferentes? É claro que não. Continuam feios, é verdade, mas ainda são duas pessoas diferentes.

Então, você é suas memórias? Bem, consideremos aqui memórias não apenas como sinônimo de lembranças, mas como sendo todo o conjunto de pensamentos, desejos, recordações que existem no nossa mente, ou seja nossa consciência. Sim, nós somos a nossa consciência. Podemos dizer que nossa memoria é a melhor maneira de nos definirmos, mesmo levando em consideração que nossa consciência muda com o passar do tempo. Neste caso mudamos, mas permanecemos os mesmos. Ninguém deixa de ser alguém se passar a apreciar, sei lá, Vitor e Leo (ou deixa?). Mudamos nossoa gostos, nossas vontades, nossa moral, mas não deixamos de nos reconhecer como a mesma pessoa por causa disso.

Porém aqui reside um dilema cruel. Se um clone seu possui suas memórias, seus desejos, suas lembranças mais íntimas, todos seus segredos (que você votou no Collor e tudo mais), tem suas fobias, suas aspirações. Podemos afirmar que o clone é você?

Sim podemos. Não vale argumentar dizendo: “eu sou eu por que vim primeiro que o clone” como você poderia ter certeza? Todos seus pensamentos são os mesmos lembra? E se não houvesse ninguém de fora pra poder dizer? Mas como ele pode ser eu, se eu sou eu? Bem, boa sorte...

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