09 fevereiro, 2009

FRAMES

Existem instantes que marcam. Determinam uma vida. Dividindo-a em antes e depois, como um véu que se dissipa e revela aos olhos incrédulos uma nova realidade. São eventos triviais e intensos, como o beijo roubado no meio de um sorriso, ou o adeus – seco e doloroso – no desenlace das mãos apaixonadas. E, tais quais velas desregradas, balançam ao vento do destino, impedindo medições aprimoradas.

São estalos de puro ardor e medo, como o nascimento do filho indesejável que sempre te esperou em segredo. Ou a leitura, lenta e colorida, daquele poema - estranho e intensamente perturbador. São atos luminosos, como a morte anunciada (e temida) do parente próximo, ou como aquela onda – lembra? Aquela que te derrubou na praia e te fez sentir medo, muito medo. São flashes de sentido, luzes negras revelando segredos, como o instante antecessor a penetração que te revela o fim da virgindade.

Ver Chaplin pela primeira vez é um destes momentos. Perder o amor nunca conquistado, e o enrijecimento incontrolável durante a descoberta da mentira e a vergonha sublinhada no olhar reprovativo de sua mãe, também.

Para alguns é o encadeamento desses fatos, sua sucessão (i)lógica, que traduz em sentido o mistério reticente, como se o resultado da equação explicasse os motivos da soma. Para outros é a espera, a cadência harmoniosa de cada acontecimento que justifica o viver, como se a cerca fosse definida pelas estacas que a sustentam.

Infelizmente a maioria das pessoas não os percebe, não os vê. Acolhendo, com agrado os joelhos de gigantes aleijados. São canhestras formigas, que sempre terão uma tela de cinema num quarto escuro abandonado: inútil, mas com propósito.

Porém, existem os outros. Poucos é verdade. São os que amam como supernovas, os que engolem os desafios e as canduras sem perder suas bússolas. São os senhores de seu destino, os capitães de sua alma, são escritores, artistas e pedreiros. Podem ser estadistas, filósofos e até lixeiros. Não importa. Para estes, sempre haverão as horas mágicas. O incansável itinerário do relojoeiro cego.

2 comentários:

João Victor disse...

Faço as honras ao meu amigo alex.

Estou muito feliz por sua participação no brainstorming e acredito que o sucesso desse blog é proporcional a qualidade dos textos de todos os colaboradores.

João Victor disse...

São canhestras formigas, que sempre terão uma tela de cinema num quarto escuro abandonado: inútil, mas com propósito.

Sentença-Metáfora comprobatória das minhas teorias.
Você descreveu a imagem mais perfeita do Zoom divino.